Quentin Tarantino é realmente um diretor criativo, que consegue cativar suas platéias com sua narrativa única e com roteiros inteligentes que se alimentam de outras fontes, seja de uma ópera, seja de outros filmes. É essa a primeira constatação quando nos deparamos com o impactante filme "Django Livre".
Cartaz do filme. Em www.en.wikipedia.org |
O roteiro é um primor do lado criativo do diretor de "Cães de Aluguel", "Pulp Fiction" e "Kill Bill".
Conta a história de um escravo, chamado Django, vivido por uma atlético Jamie Foxx, que é liberto de suas amarras por um caçador de recompensas, Dr. Schulz, personagem interpretado de forma vigorosa por Christopher Waltz. Isso tudo em uma época - pré Guerra Civil Americana - em que os negros ainda viviam desprezados e em condição subhumana. O próprio Django muitas vezes era ridicularizado por andar sob o cavalo, coisa impensável na época. Outra coisa impensável - um negro sendo um caçador de recompensas (o que gerou, vezes por outras, um nítido prazer no herói). E nisso o filme ganha uma narrativa estupenda, enquanto Django vai ainda em busca de outro objetivo - libertar sua amada, Broomhilda, uma escrava que sabia falar alemão. Não antes sem enfrentar vários malfeitores, dentre eles o proprietário de Broomhilda (e da fazenda Candyland), Calvin, vivido por Leonardo di Caprio, e seu capataz, Stephen, um negro que não gosta de negros, soberbamente interpretado por Samuel L. Jackson.
A atuação dos atores é algo digno de nota. Todos estão estupendos.
A começar do caçador de recompensas alemão Dr. Schulz, vivido com grande carisma por Christopher Waltz. Um excelente ator, sem dúvidas. Ganhou o Globo de Ouro pelo desempenho, o que é merecedíssimo.
Leonardo Di Caprio, que é sabidamente um bom ator, também se dá bem na película. Faz um proprietário de terras bem interessante, e malvado, cujo prazer maior é ver escravos se matando em uma luta que mais parece a de gladiadores romanos, só que sem armas. Também indicado ao Globo de Ouro de coadjuvante, muitos críticos consideram uma injustiça ele não ter sido indicado ao Oscar.
Outra atuação convincente é a de Samuel L. Jackson como Stephen, capataz de Calvin (Leonardo Di Caprio). Ele faz um vilão negro, que descobre as ligações entre Django e sua esposa Broomhilda. Django estava na fazenda de Calvin para resgatar sua amada e teve que lidar com a esperteza de Stephen, que desencadeia um dos melhores momentos do filme - a parte, inclusive, que gerou mais sangue e impacto.
O próprio Tarantino aparece no filme (um pouco gordinho, diga-se), de uma maneira inusitada. Mais inusitada, no entanto, é como ele desapareceu. Cômico e divertido.
Aliás, o humor pontua o filme. Destaque para a cena em que a Ku Klux Khan e seu vestuário são ridicularizados.
A trilha sonora também é muito interessante, na medida certa, acompanhando muito bem todo o desenrolar da trama.
Ponto também para Tarantino no trato de um tema tão difícil, e complicado, como é o da escravidão, notadamente no período histórico americano pré Guerra Civil Americana. Tarantino foi até hostilizado por alguns por usar e abusar da expressão "nigger", mas o fato é que o diretor não escondeu a verdade, embora tenha contado uma história de ficção. Talvez a intenção de Tarantino fosse essa mesmo - irritar, provocar polêmica, afinal utilizou-se da expressão 109 vezes no filme.
Se há algum ponto negativo, é justamente a existência de muitas cenas redundantes e por vezes desnecessárias. É o problema de um filme que dura quase três horas.
O filme tem muito de Tarantino. A sua marca está ali. Muito sangue jorrando, vísceras voando e o exagero de algumas cenas têm seu impacto autoral.
Algumas curiosidades do filme.
Primeiro, que o filme é levemente inspirado no quase homônimo "Django" dos anos 70. Aqui, o pistoleiro é um ex-escravo. O outro filme, um "western-espaghetti" (faroestes ítalo-americanos dos anos 60, principalmente), em que Tarantino, fã do subgênero, buscou a inspiração para muitas cenas.
Segundo, a engraçada primeira roupa de Django, que mais parecia um marquês que propriamente um pistoleiro, foi inspirada em uma pintura de 1770. Para quem quiser conferir, é de autoria de Thomas Gainsboroughs e se chama "The Blue Boy".
A mais interessante das curiosidades, no entanto, é de onde Tarantino tirou a história de Broomhilda - de uma ópera de Wagner. Broomhilda é a princesa que Siegfried quer resgatar na ópera "O Anel de Nibelungos". A analogia é perfeita. Mais um ponto para Tarantino.
Enfim, um filmaço. Para se ver com prazer.
Cotação: * * * *
SUCESSO DE BILHETERIA: Sim.
SUCESSO PERANTE O PÚBLICO: Sim, mas há controvérsias. Algumas pessoas podem não entender o estilo "violento " de Tarantino, além do tempo do filme ser reconhecidamente excessivo, o que certamente incomodará alguns espectadores..
SUCESSO DE CRÍTICA: Sim.
PRÊMIOS: Indicado a 05 Oscars (Melhor Filme, Melhor Roteiro Original, Melhor Fotografia, Melhor Edição de Som, Melhor Ator Coadjuvante - Christopher Waltz). Ganhou 02 Globos de Ouro - Melhor Roteiro e Melhor Ator Coadjuvante (para Christopher Waltz).
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