sábado, 22 de agosto de 2020

UM SONHO DE LIBERDADE ("THE SHAWSHANK REDEMPTION", 1994)

 

É, no mínimo curioso, um filme não fazer sucesso no cinema e, tempos depois, ser aclamado pelo público como um dos filmes preferidos em seu imaginário. É o que ocorreu com "Um Sonho de Liberdade" (The Shawshank Redemption"), filme baseado em um conto ("Rita Hayworth and The Shawshank Redemption") do livro "Quatro Estações", de Stephen King. Curiosamente,King é mais conhecido pelos seus livros de terror que geraram adaptações cinematográficas -  "It" ("A Coisa"), "Christine", "Cujo", "Cemitério Maldito", entre outras ou por obras que exibem alguma temática de fantasia, como "À Espera de Um Milagre"; em  "Um Sonho de Liberdade", o que se vê é um drama que poderia ser uma história real.

Shawshank Redemption é um filme de prisão. Mas é, principalmente, uma ode à amizade e à esperança. Como gênero, conforme já explicado anteriormente, apresenta-se como um drama, centrado na figura de dois presidiários que desenvolvem uma relação amigável: Andy Dusfrene, interpretado por Tim Robbins, acusado e preso injustamente por dois assassinatos que não cometeu; e Red, brilhantemente interpretado por Morgan Freeman, um presidiário. Além dos dois, uma figura de destaque é o vilão da trama Norton, o Diretor da Penitenciária Shawshank, corrupto e sem escrúpulos, que explora a inteligência de Andy em benefício próprio.

A redenção do título original aparece  na parte final, sendo de se ressaltar que o maior problema do filme é a sua longa duração, principalmente na primeira hora de projeção, com cenas que poderiam muito bem ser sintetizadas ou mesmo suprimidas. Obras dramáticas baseadas em Stephen King parecem sempre ter essa sina de se arrastar em alguns pontos do roteiro...

 As atuações de Morgan Freeman e Tim Robbins são boas, mas não ao ponto de render premiações, como de fato ocorreu.  A direção, segura, que não compromete, é de Frank Daranbont, que fez várias adaptações de Stephen King para o cinema, entre elas o aclamado "A Espera de Um Milagre" ("The Green Mile").

Algumas curiosidades sobre o filme: a icônica árvore das cenas finais do filme foi destruída, posteriormente, por forças da natureza: primeiro, um raio a partiu pela metade; depois, fortes ventos a derrubaram definitivamente. Ali havia intensa peregrinação de fãs do filme. Outra curiosidade que marca o filme tem a ver com a sua popularidade: é o filme com melhor cotação no Internet Movie Database (IMDb), que traz as opiniões de usuários de todo o mundo. É considerado, também, um filme que agrada todos os públicos, dos jovens aos idosos, ao contrário, por exemplo, de "E o Vento Levou", que costuma agradar somente os mais velhos e "Pulp Fiction", de Tarantino, que agrada sobretudo os mais jovens.

É um bom drama, muito embora não concordamos com toda a fama que o público costuma dar a essa obra.

Cotação: ***1/2 ( bom)

SUCESSO DE BILHETERIA: Não.

SUCESSO PERANTE O PÚBLICO: Sim. É o filme número 1 do IMDb.

SUCESSO DE CRÍTICA: Sim.

PRÊMIOS:  Foi indicado a 7 Oscars (Filme, Ator-Morgan Freeman, Roteiro Adaptado, Fotografia, Edição, Trilha Sonora Original e Som), mas não levou nenhum prêmio. 
 
100 Melhores Filmes pelo American Film Institute (AFI): 72ª posição.

domingo, 22 de março de 2020

PARASITA (GISAENGCHUNG, PARASITE, 2019)

O cinema sul-coreano nunca esteve tão em alta como agora. Seria inimaginável um filme sul-coreano ganhar, numa mesma temporada, a Palma de Ouro em Cannes e o Oscar de Melhor Filme e Melhor Filme Estrangeiro. Foi o que aconteceu com "Parasita", o brilhante filme do diretor Bong Joon Ho.

Há de se ter em mente que o cinema nos brinda com infinitas possibilidades de interpretação de seus filmes. Temos aqui uma história aparentemente banal, mas que traz à luz uma crítica social extremamente relevante.  É um filme de impacto, que traz a tona diversas problemáticas: o abismo entre ricos e pobres; os problemas sociais latentes, como a  vida precária dos mais pobres, sujeitos à inundações e pesticidas na cara; a violência subjacente a um modo de vida que preconiza o ter em vez do ser; enfim, um raio x da sociedade em que vivemos.

O nome "Parasita" deriva do fato de que, pouco a pouco, os menos favorecidos (Os "Kim") vão ao encontro dos mais favorecidos ("Os Park"), penetrando em um mundo bem distante de sua realidade - mais precisamente uma mansão magnífica desenhada por um arquiteto que ali viveu antes dos atuais donos. Nesse sentido, através de golpes, um a um da família que vive nos porões sul-coreanos vai se empregando na casa dos ricos - primeiro, o filho; depois, a filha; depois, o pai, como motorista; depois, a mãe como governanta. Não bastasse essa penetração, passam a sonhar em viver como ricos e até aproveitam dessa situação enquanto os patrões viajam. Não contavam com outros "parasitas" - a governanta demitida após golpe sujo e seu marido, que estava nos porões da mansão. A partir daí, situações acontecem, num misto de drama, suspensa, comédia, até chegarmos na violência final.

O Diretor Bong Joon Ho, criador do roteiro, indiscutivelmente faz um crítica ao capitalismo. Afinal, coloca em alto e bom som que o menos favorecido tem cheiro, "cheira mal", em uma alegoria do caos que se instalou nas relações humanas deturpadas que traduzem o sentido do filme. Afinal, quem é mais parasita nesta história?
 
Pode-se até discutir se a crítica ao capitalismo e a possível glamourização da família em questão são abordadas corretamente ou não. Mas, enquanto cinema, tudo é muito bem feito nesta obra sul-coreana, com criatividade e talento.  Destacam-se também as atuações impecáveis do elenco e o ritmo perfeito da trama, misturando vários gêneros cinematográficos de maneira impressionante nas suas quase duas horas de projeção.

Enfim, um excelente filme.


Cotação: ***** (excelente)

SUCESSO DE BILHETERIA: Sim.

SUCESSO PERANTE O PÚBLICO: Sim.

SUCESSO DE CRÍTICA: Sim.

PRÊMIOS
Oscar 2020: Melhor Filme, Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original. 
Palma de Ouro em Cannes.
Globo de Ouro : Melhor Filme Estrangeiro.
Bafta: Melhor Filme Estrangeiro. 
SAG Awards: Melhor Elenco de Filme.
Critics Choice Movie Awards: Melhor Filme Estrangeiro.