A parceria Scorsese (diretor) e Di Caprio (ator) já rendeu bons filmes, sendo "Os Infiltrados" ("The Departed", 2006), vencedor de 4 (quatro) Oscars, incluindo melhor filme e diretor, o mais famoso deles. Mas em nenhuma das películas anteriores a dupla esteve tão afinada como em "O Lobo de Wall Street", um dos grandes lançamentos da temporada.
DiCaprio tem aqui a atuação de sua vida. Ele encarna com perfeição Jordan Belfort, que ficou conhecido na corretagem nova-iorquina com a sugestiva alcunha de "Lobo de Wall Street". Um perfeito apelido para um homem ávido por dinheiro e fama. Vale aqui dizer que o personagem Belfort não é um herói, e nem devemos vê-lo como tal. Então, uma primeira advertência: não deixe a atuação de DiCaprio te convencer do contrário. A atuação do ator americano é tão convincente que o drogado e golpista personagem passa a ser visto até com certa simpatia - o que gerou, inclusive, crítica por parte das pessoas prejudicadas pelos atos criminosos dele na vida real.
O longa conta a história verídica de Jordan Belfort, com todos os desdobramentos mais importantes de sua vida e carreira, a exemplo dos dois casamentos (o primeiro, com uma cabeleireira; o segundo, com uma modelo); a perda do primeiro emprego; a vida pautada em drogas e mulheres fúteis; a fundação de uma empresa especializada em venda de ações de empresas fracas de mercado; a veia motivacional e de liderança, que arrebatou vários corretores que se tornaram cúmplices de seus crimes.
É uma comédia sensacional. Muitas vezes, o personagem de DiCaprio lembra líderes de algumas religiões com seus discursos motivacionais e supostamente transformadores da vida de cada indivíduo ali envolvido no negócio. Ávido por dinheiro e riqueza, não cansa de humilhar outras pessoas e estabelecer o discurso de que o mais importante na vida é o ter, não o ser. Em uma das cenas, depois do uso de drogas (uma constante no filme), Jordan rasteja, buscando seu carro ultramoderno, no que podemos classificar de uma das sequências mais engraçadas da história do cinema.
A atriz Margot Robbie desempenha com altivez sua personagem, Naomi, a segunda mulher de Jordan. É extremamente linda e sensual. Não é uma atriz das mais relevantes, mas parece estar à vontade no papel que lhe foi confiado.
O ator coadjuvante Jonah Hill, que faz o papel do amigo principal de Jordan, chamado Donnie, rouba a cena em vários momentos, em cenas hilárias. Concorre ao Oscar de Coadjuvante, em uma indicação merecida, mas não deve levar.
Quanto a Scorsese, vale dizer que se trata de um diretor consagrado, com grandes filmes no currículo. Esse é mais um deles, e a sua marca está presente - o diretor adora personagens abjetos, despidos de moral ou mesmo diferentes. Enfim, personagens que fogem do padrão comum. É o que mais se vê nesse formidável "Lobo de Wall Street", uma comédia com muito humor negro. Lembrou "Depois de Horas" ("After Hours", 1985), o filme do mestre nova-iorquino com o maior número de bizarrices e esquisitices, ambientado em uma Nova Iorque esquizofrênica e maluca.
Vale ressaltar que o longa é para maiores de idade (desaconselhável para adolescentes), tendo em vista as cenas de sexo e drogas em excesso e os pesados diálogos, que usam e abusam da expressão "f.." (509 vezes). Como dissemos anteriormente, o final do filme, com a superação do personagem após a prisão, pode mostrar que tudo o que ele fez anteriormente em tese compensa. O que não é verdade.
A película realmente pode desagradar alguns, embora eu repita, sempre: no cinema, devemos sempre nos despir de preconceitos e procurar embarcar nas aventuras propostas. E é isso que faz a diferença em um filme como esse, de três horas de duração.
Uma aula de cinema. Três horas de puro entretenimento.
Cotação: * * * 1/2
TOP 100 - MELHORES COMÉDIAS DE TODOS OS TEMPOS
SUCESSO DE BILHETERIA: Sim.
SUCESSO PERANTE O PÚBLICO: Sim, mas há controvérsias.
SUCESSO DE CRÍTICA: Sim.
PRÊMIOS: Vários.
5 indicações para o Oscar 2014 (Melhor Filme, Melhor Ator para Leonardo DiCaprio; Melhor Diretor para Martin Scorsese; Melhor Ator Coadjuvante para Jonah Hill; Melhor Roteiro Adaptado).
Top Ten Films of the Year, do American Film Institute.
Globo de Ouro de Melhor Ator em Comédia ou Musical (Leonardo DiCaprio).